domingo, 22 de abril de 2012

NEM SEMPRE SE PERDOA...


Um homem aproximou-se do
espinheiro,

ergueu a mão para tocá-lo e um “ai!” de dor brotou de seus lábios.

Um rubi de sangue brilhou no seu dedo.

O homem limpou o sangue e disse fitando o espinheiro:

- Eu te perdôo!

Admirei e louvei dentro de mim aquele homem que possuía o doce dom de perdoar.

E aconteceu que veio outro homem.

Parou junto ao espinheiro, ergueu a mão para tocá-lo, e o espinho o picou.

Mas o homem limpou em silêncio a ferida, contemplou com amor o espinheiro, e
não disse:

-Eu te perdôo!

Tive, então, este pensamento:

- O primeiro homem era um santo:

sabia perdoar!

Este outro não sabe!

Mas o meu Senhor, interrompendo a minha cisma, disse:

- Quem não sabe é você!

- Como, Senhor? Então aquele homem…

- Sim, é um santo, porque perdoou quando foi preciso!

- E o segundo?

- É mais santo ainda, porque não tem necessidade de perdoar.

E como eu fiquei perplexo, com o olhar perdido na incompreensão e na dúvida, o
Senhor me disse:

- O espinheiro fere, porque é espinheiro.

O primeiro homem sentiu a dor da picada, e como não sabia nada,

atribuiu a culpa ao espinheiro.

Mas, como era puro de coração, perdoou.

O outro homem sentiu a mesma dor, mas como sabia que todo espinheiro fere, pois
o espinheiro é assim, não se sentiu ofendido.

E como nada tinha a perdoar, não perdoou.

Desde então sofro menos quando os espinhos me ferem.

Dói-me na alma a ferida, mas minha alma sabe que não há ofensa.

E como não há ofensa, não há perdão.

É assim que do meu peito brota um piedoso amor pelo espinho que não chegou a
ser flor.

Meu sofrimento se transforma em ternura porque já aprendi a não perdoar...



André Lyra

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